“A suprema arte seria viajar em torno do próprio quarto.”
Se essa frase, atribuída a Xavier De Maistre, fosse verdade absoluta, as companhias aéreas estariam em maus lençóis e os guias de viagem não teriam sido os best-sellers que sempre foram.
Desde o famoso “Baedecker”, que a tantos ilustres viajantes instruiu, até o atual “Guide Michelin”, o fato é que estes guias inspiraram pessoas e, hoje, depois de tanto tempo com restrições às viagens por conta da pandemia, muitos se animam a enfrentar toda espécie de transtorno para estar alhures.
Viajar tem o condão de transformar o viajante por dentro e por fora. No meu caso, começo preparando-me para uma viagem, lendo sobre o meu destino. E quando estou transportado pra lá, sempre aprofundo o conhecimento do lugar, como se pode constatar nesta crônica de uma viagem ao Chile.
Há duas importantes decisões a tomar quando se prepara uma viagem assim. Primeiro, informar-se sobre o país que se quer visitar e segundo preparar-se para o novo, o diferente, quiçá o exótico; além é claro das providências nem tão óbvias deste período de quasi-pós-pandemia: se o país-destino está aberto a visitantes brasileiros, vistos, passaporte em dia, certificado de vacina, reserva de hotéis, roteiros, passagem aérea etc.
Lembro-me que quando fui aos EUA pela vez primeira, cheguei a ler dois livros interessantes e que, mesmo distantes do atualíssimo guia de Kátia Zero ou as dicas elegantes de Glória Kalil, valem como verdadeiros “Guias”: livros de Joaquim Nabuco e Albert Camus.
As visões da cidade de Nova York que encontrei jamais passariam pela poética dos enredos criados por Nabuco e por Albert Camus (e suas viagens aos Estados Unidos). No caso do Chile, meu guia foi André Maurois.
Já faz um tempinho que minha mulher prometeu ao nosso primeiro neto (Lucas) que quando completasse 15 anos, faríamos uma viagem com ele (e sem os pais).
Ele poderia escolher o destino, e ficou, inicialmente, na dúvida entre as Ilhas Galápagos e o Caribe, mas firmou decisão recentemente.
Assim, eis-nos aí a nove meses do evento tão esperado, pré-agendado para as férias escolares dos Estados Unidos em 2022 (i.e., mês de junho), quando o Lucas terá o direito de conhecer e aproveitar de uma viagem com os avós.
E a escolha dele foi… Et voilà! Japão.
Tentei argumentar em defesa de Paris, contra a distância de Tokio, etc., mas ele foi taxativo:
- Vô, “No Paris não tem sushi, ramen, flea markets ok maybe they have, and more…” — compreenda, benévolo leitor, que o Lucas é bilíngue desde muito cedo, mas o Português é meio macarrônico, i.e., é escrita em português por um gringuinho. Ele nasceu em Surprise, Arizona, EUA.
Por ser artista e pintar desde pequeno, o Lucas terminou chegando à arte pop japonesa, dedicando-se agora à linha do mangás e do animes.
Veja alguns desses desenhos:
Mantendo uma tradição de viagens da família Queiroz (e agora incluindo este neto adolescente — Lucas Queiroz Foust), comecei a estudar as coisas do país-destino.
E assim, a estante japonesa vai ganhando corpo, em minha biblioteca:
O primeiro que li (não por inteiro, porque doloroso e em inglês) foi o “Silence”, do S. Endo. O prefácio é de Martin Scorsese. Hei de voltar a ele.
Depois, me diverti com um Murakami. Devo fazer uma resenha decente sobre o livro, porque me diverti muito lendo-o. Por ora, deixo a você, benévolo leitor esta pequena citação:
"O pico [de produção] para artistas varia: Dostoiévski, p.ex., escreveu dois de seus romances mais importantes nos últimos anos de sua vida (60 anos). Scarlatti compôs 555 sonatas p/piano, a maioria delas em 57 e 62 anos."
(Murakami: "Do que eu falo quando eu falo de corrida).
Bom, enfim, como você sabe, não tenho preparo nem ânimo para as corridas, tampouco para maratonas (como é o caso de Murakami), e como não entrei na corrida literária (ver news anterior), não me sinto sob o efeito dessa exaustão.
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Ainda em minhas andanças em busca de saber mais sobre o Japão, achei isso aí embaixo. É do site de um amigo virtual no Twitter, que também mantém uma interessante Newsletter - o Cláudio Shikida.
Sayonara.