Um fã de basquete e do Substack há de ter recebido na sua inbox a mesma entrevista que eu recebi. Foi feita com Daniel Connolly, que escreve para o UConn WBB Weekly, publicação que cobre o time feminino de basquete da University of Connecticut, que seria o melhor que está tendo em 30 anos… Aproveitei o modelo e adaptei as perguntas para me motivar a fechar esta edição extra de Destarte, mas antes nossos comerciais, por favor!
Livros do Autor desta missiva estão disponíveis na Amazon ou via inbox deste velho escriba. Convido você, benévolo leitor a assinar a minha Newsletter agora mesmo, pois, como diz o amigo Claudio Shikida, você só gasta o tempo de clicar e preencher o email, custo R$ 0,00.
Então, sem mais milongas, vamos à entrevista que fizeram comigo:
What's your Substack about in one sentence?
Well, comecei esta Newsletter aqui (mais uma bagaça textual depois do saudoso tempo dos blogs) porque o líder de toda uma geração havia começado uma Newsletter. Ele o faz com tão grande charme e leveza que nos deixa prontos a crer que é possível, sim, transformar um velho quadro que eu tinha na antiga TV Tupi (“Destarte”, em geral voltado aos advogados e estudantes de Direito), adaptando-o aos leitores juvenis e de meia-idade que não têm em vista outra coisa senão ler textos na internet. Em uma frase: Destarte é sobre leituras, livros e a exaustão literária que tento evitar correndo uma meia maratona por quinzena, ao final do que se somam uma centena de quilômetros corridos aqui, no jornal impresso (O Popular, Goiânia) e na revista digital Recorte Lírico.
How did your relationship with literature get started?
Well, comecei lendo antes de ter a chance de entrar na escola. É culpa da amada avó materna (única avó que conheci e o maior vínculo com os do meu sangue). Aprendi o bê-a-bá com ela, num método pré-Montessoriano. Ela colocava um papelzinho com um furo no meio sobre as letras e me ensinava a ligá-las, dando sentido final com o saber dela, que também me ensinou a ler a Bíblia. Nunca mais parei. O primeiro livro que eu ganhei foi presente da esposa do pastor, Dona Lya. Era um livro incrível — “O bugre do chapéu de anta” e o autor era Francisco Marins. Este livro de certa forma me salvou de levar porrada, de me manter longe da turba que se metia em confusão e ia para o castigo.
Bem, devo dizer que àquela altura eu já estava no Orfanato e tinha muitas saudades da vó Cecília, mas o livro era um grande companheiro. Depois, descobri a biblioteca do próprio Abrigo onde morava e a do Colégio em que passei a estudar graças a uma bolsa de estudos que era dada aos órfãos que tivessem melhores notas e melhor comportamento. Havia uma separação nos livros do Colégio: a biblioteca das moças e a dos rapazes. Lia um pouco de cada, pela amizade que fiz com a bibliotecária chefe, Dona Delfina. Enfim, continuei lendo, mesmo nos mais difíceis anos de estudo no curso de Física, que abandonei a seis meses da formatura. Os anos foram passando, eu ousei rabiscar uns poemas (que até hoje não tenho nenhum ânimo de mostrar em público, mas enfim os livros foram publicados) e eu comecei também a escrever sobre os livros que eu lia. Tomei como guias os críticos de rodapé (e não os universitários): Franklin de Oliveira, Temístocles Linhares e Otto Maria Carpeaux. Minha mulher queria muito que eu me candidatasse à Academia Goiana de Letras e este desejo dela foi realizado, com a condescendência dos hoje meus pares que me deram votação unânime, na segunda tentativa.
Talvez por isso uma das epígrafes de meu mais recente livro seja esta:
"Os que leem, os que nos contam o que leem...são eles que nos conduzem, que nos guiam, que nos mostram o caminho" (Códice asteca, 1524, Bibl. Vaticana, cit. por Alberto Manguel em "A biblioteca à noite")
Who is the greatest writer in your eyes?
Well, um só é difícil de dizer. Entre os narradores estrangeiros, me agradam Houellebecq, o Roth, o José Luis Peixoto; há os ingleses George Hill (poeta) e John Gray (filósofo); entre os brasileiros, gosto muito de Cristóvão Tezza e Alberto Mussa; da geração mais recente, tem o André De Leones e o Alexandre Soares Silva; o Karleno Bocarro e o Rodrigo Duarte Garcia me agradam muito (do segundo espero mais narrativas); sem esquecer do goiano, radicado no Rio, Flávio Carneiro e do gaúcho José Francisco Botelho; entre os quase inéditos, sou fã do César Miranda. Os poetas também vêm em fila: João Filho e Wladimir Saldanha; Marra Signorelli, Érico Nogueira e, por último, outros têm me afeiçoado muito — Lorena Miranda Cutlak, Daniel Mazza, Hugo Langone etc. A poesia que hoje se produz no Brasil, dentro do quadro que Saldanha chamou de “underground estético” (termo tomado de empréstimo a Harold Bloom) é uma benção. Quase um milagre.
How has the nature of reporting on reader´s relationship shifted since the pandemic began?
Well. Pandemic, pandemic, pandemic... — dos balcões de apartamento nas cidades francesas e italianas até o ponto de Bebidas 24h do Brás, ouvimos performances online. Não se fala senão em obter sucesso falando de quê? Da pandemia. Os segundos de sucesso foram caçados por muitos. Há zilhões de entradas no Google sobre pandemia e boa parte desses mega dados vem de artistas e não de teóricos ou cientistas. Enquanto respondo a esta entrevista, o Google registra mais de 343 milhões de resultados sobre o tema pandemia – o que inclui doenças infecciosas antigas que até ceifaram mais vidas do que agora. Essas aritméticas não deveriam impedir que a misericórdia se estendesse a todas as famílias das vítimas que hoje são contadas aos milhões, mas enfim, escritores ficaram em casa, músicos ficaram em casa, adúlteros quase enlouqueceram de ter que ficar em casa. Leu-se mais? Não tenho este dado. Na condição de idoso, me adequei à “liberdade enclausurada” (Galli, 2021) a que me submeteram os que me amam. Depois tem as vacinas, os que aprovam, os que não tomas, mas tomaram aquela antiga contra varíola — talvez porque ainda estivessem sob o julgo das suas (deles) mães severas. Enfim… Well, não sei responder a esta pergunta. Perguntem ao Eli Vieira, ele, sim é um craque.
Who's another Substack writer you’d recommend?
Well, basically, o nobre Sette-Câmara, o Neotosetto, o Cláudio Shikida (cit. acima). Há “os pios do César Miranda”, que se lêem no Instagram dele; e que é a forma como César encontrou de dar a nós, seus súditos, uma Newsletter, ele que foi um blogueiro de escol(a) — está imortalizado nesse “mostardinha” aqui…